segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Pelos desvãos da metrópole, a Poesia

Weslley Almeida


Até o sec. XVIII a poesia ecoava bucólica nos campos. Mas com o aparecimento de grandes cidades que surgem no século seguinte, a partir da Revolução Tecnológica, vai nascer um tipo novo de poesia, a moderna, cujo leito e lápide residem na urbe.

Com essa revolução, imensos contingentes humanos se deslocaram de seus laços comunitários em direção aos complexos industriais. Gerou-se, a partir daí, uma concentração vertical nesses lugares e os números de pessoas começam a ser contados em milhões. O ritmo de vida não pulsava mais de acordo com o fluir dos rios ou balançar das árvores, mas com o vai e vem mecânico do aço. Novos hábitos eram, pois, incorporados por esta população, em todas as áreas, e também, na linguagem. A palavra humana foi cada vez mais suprimida pelo excesso de trabalho e pelo grito das máquinas. E é nesse contexto de supressão que emerge, na segunda década do séc. XX, a lírica moderna, rompida totalmente com a tradição.

Essa nova lírica se desvencilha do rigor sintático; o sujeito poético fica fragmentado, ganha ares de personagem; o enunciado torna-se ambíguo e polissêmico; o fluxo narrativo passa a ser descontínuo, sem a fixidez na linearidade; e as temáticas são as próprias condições de existência na já então metrópole moderna. Lança-se mão de recursos como a metonímia, onomatopeias, padrões rítmicos prenhes de repetição, neologismos, tudo para dar conta desse novo jeito de existir que configurava as grandes cidades.

Misturado ao burburinho da cidade, então, o poeta, aflito, se dá conta de sua irremediável solidão. Não mais a romântica, mas a que se vivencia em meio à multidão, em meio a um vazio social. Ele atravessa a rua e não chega a lugar algum. Sente-se gauche.  Sobrevém-lhe o forte impulso de funcionar como peça de uma engrenagem, para logo mais tornar-se obsoleta. Alguns dos seus concidadãos já viraram mendigos juntos às estações, e serão confundidos com “cachorros que perseguem comboios com latidos”.

Agora, sem trovadores, tudo destoa e é um “falso acorde”. Resta ao poeta moderno o canto dissonante da urbe.

REFERÊNCIA

SEVCENKO, Nicolau. Metrópole: matriz da lírica moderna. In: Olhares sobre a cidade. Roberto Moses Pechman (org.). Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1994.

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