Weslley Almeida
Até o sec.
XVIII a poesia ecoava bucólica nos campos. Mas com o aparecimento de grandes
cidades que surgem no século seguinte, a partir da Revolução Tecnológica, vai
nascer um tipo novo de poesia, a moderna, cujo leito e lápide residem na urbe.
Com essa
revolução, imensos contingentes humanos se deslocaram de seus laços
comunitários em direção aos complexos industriais. Gerou-se, a partir daí, uma
concentração vertical nesses lugares e os números de pessoas começam a ser
contados em milhões. O ritmo de vida não pulsava mais de acordo com o fluir dos
rios ou balançar das árvores, mas com o vai e vem mecânico do aço. Novos
hábitos eram, pois, incorporados por esta população, em todas as áreas, e
também, na linguagem. A palavra humana foi cada vez mais suprimida pelo excesso
de trabalho e pelo grito das máquinas. E é nesse contexto de supressão que
emerge, na segunda década do séc. XX, a lírica moderna, rompida totalmente com
a tradição.
Essa nova
lírica se desvencilha do rigor sintático; o sujeito poético fica fragmentado,
ganha ares de personagem; o enunciado torna-se ambíguo e polissêmico; o fluxo
narrativo passa a ser descontínuo, sem a fixidez na linearidade; e as temáticas
são as próprias condições de existência na já então metrópole moderna. Lança-se
mão de recursos como a metonímia, onomatopeias, padrões rítmicos prenhes de
repetição, neologismos, tudo para dar conta desse novo jeito de existir que
configurava as grandes cidades.
Misturado ao
burburinho da cidade, então, o poeta, aflito, se dá conta de sua irremediável
solidão. Não mais a romântica, mas a que se vivencia em meio à multidão, em
meio a um vazio social. Ele atravessa a rua e não chega a lugar algum. Sente-se
gauche. Sobrevém-lhe o forte impulso de funcionar
como peça de uma engrenagem, para logo mais tornar-se obsoleta. Alguns dos seus
concidadãos já viraram mendigos juntos às estações, e serão confundidos com
“cachorros que perseguem comboios com latidos”.
Agora, sem
trovadores, tudo destoa e é um “falso acorde”. Resta ao poeta moderno o canto
dissonante da urbe.
REFERÊNCIA
SEVCENKO, Nicolau. Metrópole: matriz da
lírica moderna. In: Olhares
sobre a cidade. Roberto Moses Pechman (org.). Rio de
Janeiro: Ed. UFRJ, 1994.
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